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sob uma belíssima tenda negra do beduíno sem tribo, nasci. Vaguei por desertos e mares, vivendo de pilhagens em nações com Estado e da hospitalidade de povos sem pátria. Daí insurgi contra todas as imagens miseráveis da condição humana. Este é meu diário de bordo.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

liberdade e auto-realização avaliativa interdependentes

o golpe de um estado policial deu seu tiro de misericórdia na exuberância: todo efeito conjugado da viciada negação e da passividade é agora o valor mais alto. em outras palavras, o gozo como auto-repressão. tudo o que é miserável é tomado como nobre inspiração. paixão resoluta desistente. nenhuma luta evoca e mobiliza. a não ser aquela que deixa de lado a liberdade em prol da vigilância. um grande cansaço atravessa todos os corpo como uma flecha. tudo é cálculo programático de partidos políticos e televangélicos. sorria você está sendo vigiado!

agora, imagine! nenhuma prática de rebelião! nenhuma autoridade se desgastando contra própria vontade! a truculência como meta. o esvaziamento como meio. sendo imperiosa a impessoalidade das instituições! para que ninguém seja responsabilizado. sendo magestosa a humanização dos inimigos clássicos da liberdade! para que se escondam sorrateiramente sob as saias do humanismo histérico. esquizofrenia e bipolaridade convenientes.

bisbilhotemos alguns exemplos:
  • a gentalha é contra o governo, fofocam, esbravejam e se acotovela nas filas. depois dessa seção de descarrego, nenhuma conspiração fazem para derrubar o prefeito de sua cidade.
  • quanto ódio em ter que se espremer por horas em latas velhas chamadas ônibus? no entanto nenhum dono de empresa é sequestrado. no máximo um ou outro ônibus incendiado. ao menos o fogo é encantador. porém de breve e ineficaz beleza.
  • fazer greve tem que ser considerada legal por "órgãos competentes" e não pode atrapalhar a realização dos trabalhos forçados de outros escravos. daí nenhuma vingancinha contra patrões.
  • quanta humilhação em realizar trabalhos que se odeia fazer e, ainda ter que desejar profissões que não fazem a menor diferença. no entanto nenhuma sabotagem, nenhuma tomada de fábrica ou de serviços públicos.
  • um policial morto não é menos um agente armado até os dentes, pronto para matar e adestrado para proteger a ordem, é sim um pai de família dedicado que será chorado em rede nacional. sem falar que até sindicato tem! virou classe trabalhadora!
  • não se destrói nenhuma propriedade, pois isso é um ato de violência. violação dos direitos de integridade física dos objetos?
  • a hipocrisia da livre expressão dos formadores de opinião não mancha nenhum estado com a lembrança de que ele é capitalista, neo-liberal ou neo-puritano cristão. mas não hesitam um milionésimo de segundo sequer em dizer que tal é comunista ou islâmico.
  • os ricaços gozam de dupla proteção: estatal (policial) e particular (empresas de segurança). os novos ricos, com recursos comprometidos na compra de coisas e temendo perdê-las, sem dinheiro suficiente, gritam pelos cachorros do estado. já a multidão... polícia e empresas de segurança em seus calcanhares. apesar de todos os postos policiais, caveirões e agentes sociais infiltrados, o populacho roubam e matam-se uns aos outros. há muito se perdeu de vista as contestações fundamentais.
  • ser realista é ser prudente, carreirista e cidadão. nenhum delírio por transformação social. nenhuma embreagada condenação à sociedade vigente. nem sequer uma ínfima e treslocada revolta. todo milímetro de espaço é reivindicado. ocupação permanente pelo latifúndio, pelos trabalhadores sem terra, pelas mineradoras, pelos garimpeiros, pelos empreiteiros e urbanistas. nenhuma espaço é liberado.

quanta asneira e auto-punição é necessária para se evitar o conflito e o confronto? nenhuma relação vigente é tradução concreta da dominação? o direitismo de militares, padres, pastores, empresários e latifundiários é esperança entre o povo. o esquerdismo e o anarquismo não inspiram temor algum entre governos. grupos minoritários ansiosos por se integrarem na grande farra da futilidade da opulência.

parafraseando um ocidental anônimo, avalio minha condição e compreendo minhas aspirações:

"a sociedade da impotência para agir, na qual fica pendente a ação que se gostaria de realizar, deve ser varrida da história. eu estou inventando um mundo novo e original. mas não venham atrás de mim! minha delinquência exuberante está cagando para o poder!"

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